Gravidez Múltipla, porquê acontece? Qual a relação com a Reprodução Assistida?
Apesar de ter diminuído bastante nas últimas décadas, a gravidez múltipla ainda é mais comum que no passado.
Gestação múltipla, o que significa?
A Gestação Múltipla é aquela que gera mais de um bebê simultaneamente, podendo ser gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos e mais bebês.
Sua incidência na gestação natural é de 1/80 (1 em cada 80). Já na gravidez gerada com a utilização de técnicas de reprodução assistida a incidência corresponde a aproximadamente 3% das gestações.
Quanto tempo dura a gestação múltipla?
A gravidez natural dura, normalmente, entre 37 semanas a 42 semanas a partir do último período menstrual.
No caso da gravidez múltipla, a gestação dura em média 30 e 35 semanas conforme a quantidade de bebês. À medida que aumenta o número de fetos, diminui o tempo de gravidez.
Quais a principais complicações?
As gestações múltiplas com mais bebês tendem a ter mais complicações, além de poder gerar uma maior incidência de náuseas, vômitos, chance de cesariana e uso de fórceps no parto.
A seguir outras complicações que devem ser levadas em consideração:
Pré-eclâmpsia
A pré-eclâmpsia é diagnosticada quando a pressão arterial da mulher se torna elevada e a proteína é detectada na urina, podendo progredir e prejudicar a saúde da mãe e dos bebês.
É 2 a 5 vezes mais frequente nas gravidezes múltiplas e acontece entre 15 e 20% na gestação de gêmeos e sua incidência é ainda maior à medida que aumenta o número de fetos.
Nos casos mais graves a pré-eclâmpsia pode causar convulsões e acidente vascular cerebral, além de outras complicações com risco de vida.
Diabetes
Na gestação múltipla as mulheres estão mais propensas a desenvolver diabetes gestacional e com isso os seus bebês também estão mais propensos a experiência de sofrimento respiratório e outras complicações do recém-nascido. No entanto, o diabetes gestacional é comum mesmo em gestações únicas, e o tratamento é bem estabelecido e eficaz.
Parto Prematuro
Esta complicação representa o maior risco para a gravidez múltipla. Na gravidez única, apenas 10% dos bebês nascem prematuramente, já na gestação múltipla cerca de 60% dos partos são prematuros.
O parto normal dependerá do tamanho, posição e saúde dos bebês, bem como do tamanho e forma dos ossos pélvicos da mãe. Muitas vezes a parto cesária é necessário.
Considerando que o parto prematuro apresenta sérios riscos, alguns sinais de alerta devem ser observados e caso ocorram devem ser comunicados ao médico:
• pressão pélvica;
• dor lombar;
• aumento da secreção vaginal;
• alteração na frequência de dores de “trabalho falso”.
Em alguns casos, é possível adiar o parto prematura por alguns dias, o que ajuda no crescimento e desenvolvimento fetal. Uma vez que uma mulher está em trabalho de parto avançado, o parto não pode ser interrompido. Em casos raros, a entrega do segundo bebê pode ser adiada. Esse atraso, quando possível, permite o crescimento contínuo no ambiente protetor do útero.
Ainda não é de conhecimento médico, tratamentos eficazes para prevenir o nascimento prematuro na gestação múltipla.
Complicações para os fetos e os recém-nascidos
O parto prematuro, em casos de trigêmeos e mais bebês coloca o recém-nascido em risco aumentado de complicações graves ou morte precoce, pois seus órgãos vitais – pulmões, cérebro, sistema circulatório, sistema intestinal e os olhos – podem não estar totalmente desenvolvidos.
Dos bebês prematuros que falecem, praticamente a metade foram diagnosticados com a síndrome do desconforto respiratório, devido aos pulmões imaturos, cerca de 10% morrem devido a danos cerebrais.
O parto prematuro também pode causar a deficiência visual ou cegueira nos recém-nascidos.
Apesar destes números, é importante notar que a grande maioria dos bebês prematuros sobrevivem. A morte fetal ocorre em cerca de 1,6% dos gêmeos e 2,7% dos trigêmeos.
Além disso, em comparação com gestações únicas de mesmo peso ao nascer, não há aumento significativo na incidência de problemas pulmonares, cerebrais, oculares ou gastrointestinais nos recém-nascidos.
Os bebês prematuros normalmente nascem com um peso mais baixo, sendo o peso médio de 2,5 Kg em mais da metade dos casos de gêmeos, 1,6 Kg para trigêmeos e 1,4 Kg para quadrigêmeos.
A taxa de sobrevivência global é de 85% para recém-nascidos prematuramente com mais de 1 Kg, mas em casos de bebês com menos de 1 Kg essa taxa cai para 40%.
O peso ao nascer também tem uma ligação direta com a gravidade das incapacidades ao longo da infância. A deficiência ocorre em quase 25% das crianças com um peso inferior a 1 Kg. Como observado acima, o peso médio de nascimento, mesmo para quadrigêmeos é bem acima deste valor.
Problemas Placentários
A placenta tem a função de fornecer sangue, oxigênio e nutrir o feto por meio do cordão umbilical.
Na gravidez múltipla essa função tem mais probabilidade de ser anormal e quando a a placenta é incapaz de fornecer oxigênio ou nutrientes adequados, o feto tem o seu crescimento prejudicado. Além disso, a placenta envelhece prematuramente e pode retardar o crescimento fetal, especialmente no final do terceiro trimestre.
Gêmeos e múltiplos de alta ordem que são mais de 30% de “baixo peso” por medidas de ultra-som estão em risco aumentado de complicações e têm taxas de mortalidade de quase 25%.
Outro problema placentário é a transfusão entre os gêmeos, uma condição potencialmente fatal no caso de gêmeos idênticos. Esta transfusão ocorre quando o sangue flui de um feto para o outro pela placenta compartilhada. O gêmeo “doador” tem o seus crescimento retardado e prejudicado e um excesso de fluido se desenvolve no gêmeo “receptor”.
As técnicas de amniocentese terapêutica e coagulação a laser de vasos sanguíneos podem reduzir as complicações da transfusão.
Quais a chances de ocorrer uma gestação múltipla?
Existe um aumento nas chances da mulher ter uma gravidez múltipla devido à alguns fatores:
• histórico familiar;
• alimentação;
• tratamentos de infertilidade.
Nos tratamentos de reprodução humana assistida, quais as chances de uma gestação múltipla?
As técnicas para o tratamento de infertilidade como a reposição hormonal, inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV) aumentam as chances da mulher ter uma gestação múltipla.
Estima-se que a probabilidade seja em torno de 20% na inseminação artificial e no coito programado (reposição hormonal).
Na FIV dependerá da quantidade de embriões transferidos para o útero, quanto mais embriões, maior a chance de ter uma gravidez gemelar ou de mais bebês.
A fim de tentar reduzir a incidência da gestação múltipla na fertilização in vitro, a ANVISA restringiu o número de embriões a serem transferidos conforme a idade da mulher.
• Até 35 anos : as mulheres podem receber dois embriões;
• De 36 a 40 anos: as mulheres podem receber três embriões;
• Acima dos 40 anos: as mulheres podem receber, no máximo, quatro embriões.
Sendo assim, a escolha da quantidade de embriões deve considerar a legislação, a perspectiva de sucesso e de preferência, o menor número possível de embriões a serem inseridos.
Cuidados durante a Gravidez Múltipla
Principalmente a partir da 20ª semana de gestação, a gestante deverá mudar bastante o seu estilo de vida, a fim de alcançar o melhor resultado com uma gravidez múltipla.
Peso e metabolismo
A gestante de uma gravidez gemelar ou múltipla precisa ganhar mais peso, especialmente se ela começa a gravidez abaixo do peso.
O padrão de ganho de peso é importante: o peso saudável de nascimento é mais provável de ser alcançado quando a mãe ganha em média 0,5 Kg por semana nas primeiras 20 semanas.
O aumento do crescimento fetal com a nutrição adequada e ganho de peso pode melhorar significativamente o resultado da gravidez.
Atividades diárias e exercícios físicos
Muitos médicos acreditam que a redução nas atividades e o aumento do repouso prolongam as gestações múltiplas e melhoram os seus resultados.
As mulheres na faixa de alto risco são aconselhadas a evitar atividades extenuantes e se afastar do trabalho em algum momento entre 20ª e 24ª semanas. O repouso no leito melhora o fluxo sanguíneo uterino e pode ser benéfico para problemas de crescimento fetal. Na fase de repouso absoluto é aconselhável evitar as relações sexuais.
Acompanhamento
Considerando que o nascimento prematuro e os distúrbios de crescimento são os principais fatores que contribuem para óbito e as deficiências do recém-nascidos nas gestações múltiplas, as visitas com mais frequência ao médico e o monitoramento rigoroso da gravidez são recomendados.
No primeiro trimestre deve ser realizado o pré-natal, no qual é possível diagnosticar anormalidades genéticas como a síndrome de Down; Entre a 16ª e 20ª semanas pode ser feita a amniocentese (exame diagnóstico para detectar determinados problemas no feto). O exame pode ser mais complexo e difícil de ser realizado em gêmeos e trigêmeos e pode não ser possível em gestações com um número maior de bebês.
No entanto, existem dados razoáveis para o uso da triagem sérica no contexto de gravidezes múltiplas e pode ser uma ferramenta útil para avaliar o risco destas e de outras condições.
Exames cervicais e ultra-som podem ser realizados conforme a conduta do médico para acompanhar a dilatação do útero, a fim de prevenir ou retardar a dilatação prematura com procedimentos específicos como a cerclagem. Apesar da cerclagem preventiva não demonstrou prevenir o parto prematuro em gêmeos ou trigêmeos.
Exames de ultra-som no segundo trimestre podem identificar alguns defeitos congênitos. A avaliação do crescimento fetal por ultra-som a cada 3 a 4 semanas durante a segunda metade da gravidez é normalmente realizada.
(*) As informações do artigo são baseadas em dados de diferentes pesquisas e de fontes variadas e são inúmeros os fatores que podem levar a alterações das estatísticas.
O tema relacionado ao tratamento de infertilidade deve ser discutido entre a equipe de profissionais da clínica de reprodução escolhida e o casal.
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